quarta-feira, 18 de julho de 2007
"injusto é não estar feliz consigo mesmo"
Mas sempre encontro meus demônios neste mundo de beleza, onde nada pode ser tão belo assim. Um rosto inatingível, um único estímulo, desprovido de aparente significado, que desencadeia uma onda devastadora de abandono. Me faz sentir sozinho mesmo quando não estou. Dilacera minha garganta, queima meu estomago. Desprezo minha própria e insuficiente felicidade.
Sofro até me livrar desta mágoa, ou ao menos sentir como estivesse livre. Mas sei que nunca vou estar curado até me permitir. Sou o mestre da auto condenação.
E recomeço um ciclo de aparente felicidade. Tão real que justifica meu recente sofrimento. Até culminar em um novo encontro, até me levar a um novo rosto, inatingível.
Encaro minha tristeza com um sorriso, não menos real que minha tristeza...porque afinal existe tanta beleza neste mundo, que é difícil, quando não injusto, ficar triste.
[de um conhecido 'autor-desconhecido': "Oneofakind"]
terça-feira, 10 de julho de 2007
COBAIAS de DEUS
O que exatamente as emoções são??
O mundo tão ao contrário
e o que antes eu considerava beleza
minha própria cultura condena
em gestos de pura crueldade
disfarçada por alguma religião
e só o que desejo
é essa alma
das ruas
nua
como é a virgindade das coisas
vividas pelo enfrentamento circunstancial
da inevitável primeira vez de todas as vivências
da própria vida
no hoje próprio do agora
da eterna toda-primeira-vez
de sempre um agora que
sempre
nunca
pode
ser o mesmo
E enfim consigo aquilo que nem sei o q é?
E o que será?
Esse mistério que paira disfarçado em cada par de olhos brilhantes??
O que é esta coisa a que tanto procuro??
E porque??
Porque ainda coexiste essa catástrofe ao lado da incoerência consciente da razão?
“parece q todos temos esta sensação de que todos estamos errados por exceção de nós mesmo....”
domingo, 8 de julho de 2007
{{{{{{(((([[[[[[OqueNãoCabe]]]])))))))}}}}}}}
O que se pede explicação com verdadeira paixão existencial é geral e somente sobre aquilo que é impossível explicar-se, justamente pela natureza não verbal da coisa a que anseia-se explicação. E para que exatamente pergunta-se? Parece ser através dos pontos de interrogação a única possibilidade de comunicação entre os espíritos questionadores, o que soa absurdamente lógico, é claro. Mas não somente perguntas... afirmações e até mesmo respostas, tudo vem sucedido de inúmeros pontos de interrogação intermináveis, que se multiplicam como multiplicam-se as idéias quando se encontram, complementando-se ou chocando-se umas com as outras, compreende???
A compreensão do incompreensível. Será esse o objetivo de tais pontos de interrogação? Tentar fazer do incabível um imperfeito e forçado encaixe? Como tentar rasgar a retórica na tentativa prepotente de tentar representar tão intimamente a ponto de substituir a própria vida? Ser Deus, será isso, ser um criador? Não seria como forçar raivosamente um denso objeto redondo para dentro de um cubículo de menor volume? É completamente provável e possível que existam inúmeras metáforas melhores para tentar representar aquilo que era de meu desejo. Acontece que, dentro do que está sendo pensado aqui, é absolutamente incabível a racionalização efêmera a que anseiam as palavras que existem... Não é o pensamento que é incapaz, incapazes são as próprias palavras sem vida naqueles que as leêm.
O espírito da coisa
O espírito da coisa
A alma dos macacos se espalha através de tudo aquilo que eles conhecem
Assim como para eles é a floresta, espirituosamente rica da alquimia da vida
é para as baleias, tubarões, polvos e outros seres marítimos o oceano
A alma das plantas está, também, em nossos olhos
Assim também são os rios, oceanos, montanhas
Eles têm a alma nos olhos, pés ou sangue de outros animais
além de neles mesmos...
são como os patos, gansos, garças e outras aves que sabem pertencer à uma paisagem
como nenhum outro ser
Eles compreendem neles mesmos a percepção que têm de tudo que desfrutam
A alma é uma espécie de caminho...
A alma do mundo está nos olhos
daquele que tenta desvendá-la, ou desvendá-lo
A alma é um caminho sem fronteiras
Como que a cola grudenta que faz do corpo e da mente uma só coisa
como uma rua que de tão larga não tem meio-fio, uma rua redonda
É como que sentindo o que se sente, fosse além dos sentidos
por conexão e conjunto, extensão pro mundo em coletivos
compondo num só espírito planetário
esse compartilhar de uma presença ( no pre-sente)
[a presença que precede o pressentimento de um presente]
que por ser inevitável, sentir cria o mais claro consciente
A alma é essa fração errante de tempo
que se desloca por diferentes dimensões do nosso espaço
Alma é o mistério, maior que a escuridão da floresta
O enigma do acaso, e da eternidade efêmera
a transitoriedade dos erros acertantes
da poesia virótica
que acaso se disfarça muitas vezes em prosa
infestando todo e qualquer tipo de literatura e indo muito além dela...
encadeando-se disfarçadamente pelo DNA de frases às vezes por demais extensas.... Virando contos, crônicas, romances, roteiros... Ganhando imagens e sons e todo este movimento ativo cada vez mais intrinsecalizado em si mesmo com o uso e abuso da tecnologia audiovisual, transcendendo ao status de CINEMA, de arte sétima.... Recheando cada veículo com bons bocados desta nutrição poética, imensos lotes desta alma grudenta são digeridos antropomorficamente, e aglutinados na experiência sensorial-subjetiva dos confins do inconsciente, por fim resultam em um único corpo que por ventura pode ser esquecido numa estante, armário ou HD: livro, CD, DVD, arquivo digital...
Será a Alma isto que fica para além dos corpos das pessoas?
Será alma a vida que está além da própria vida individual, aquela vida que se expande além das fronteiras do tempo para ser elevada à categoria de cultura?
Mas a alma jamais poderia estar viva sem as células de seu corpo
já que ela é necessariamente a consequência de uma coletividade
Assim como uma cultura não poderia estar viva sem seus indivíduos formadores de uma tal sociedade ou um corpo cultural, uma alma não tem vida se não encontra a biologia que a faça manifestar-se...
A alma de um livro, por exemplo, quando na estante
tem alma de paisagem...
Mas quando na imaginação por detrás de olhos
de quem o leu (ou a leu [a alma do livro]),
e por todo o restante da vida deste ser
o livro tem alma humana além da alma própria que tem por ser o que é, na estante.
A poesia contida,
que não está nem no livro e nem na estante e nem na tela de cinema e nem na pintura e nem no céu,
está, em verdade, por dentre todas as coisas, à todo e qualquer momento
Não são necessária palavras para se compor um poema,
assim como não é preciso som para que se faça uma música.
Diz-se à respeito de um estado conhecido como inspiração
mas que se sabe sobre isso?
Acho que o tanto quanto se sabe sobre a alma...
Eu diria que a poesia é só...
...o espírito da coisa.
[Uirah Felipe]
o extremo da oposição é a origem de toda a igualdade
O Amor
tem tantas formas
que nem forma cabe
que nem precisa
e nem há de
(caber?)
_O que é esse poder de pensar?? Essa coisa que não me cabe e que ao mesmo tempo me invade e me expande? O Que é?
_Esse poder é... é o que é?
_E que diferença faz a retórica?
_É verdade!
_Verdade?
_Sei lá...
_A retórica... simplesmente que..., sei lá... nela não cabe! Não cabem palavras. Dizem elas alguma coisa, afinal, sem a força que o verbo só pode ter se na presença de uma garganta vulcanicamente viva?
_Mas e gestos? Cabem gestos? E... na imaginação cabe a natureza de ser?
_Gestos cabem, mas... será que serão visto? Quero dizer... tudo que se diz... assim, nas palavras, será um dia compreendido além delas??
_Não sei se cabe expandir tanto...
_Do que você está falando?
_De não caber ué!
_Não cabe nem dizer... acho que era isso, era isso que eu queria dizer... ou não dizer, se é que você me entendeu..., entendeu??
_Entendeu o que?
_Shiiiiiii
_Que f...
_Shiiiiii... ouve.
_ O q...(?)
(os olhos se fecham e não restam palavras,
desparagrafam-se, por fim,
numa única prosa que transborda-se em poesia)
[Uirah Felipe]
terça-feira, 3 de julho de 2007
o Céu na Terra, ou, o Céu na terra, ou...
o céu na terra:
Quero me calar
pra ouvir o silêncio
mas faz tanto estrondo
é tanto metal estalindo
borracha derrapando
eletricidade gritando
martelos, brocas,
homens trabalhando
é preciso gritar mais alto
até ficar louco de tanto falar
e nem ouvir mais nada
e enfim
entender
que pra ouvir o silêncio
não basta ser surdo.
terça-feira, 26 de junho de 2007
Esta tarde não me arde: à deriva em meu "Castelinho"
Deixo estar a passagem veloz dos dias. Desobedeço sem remorsos. Antes encontrar-se perdido que perder-se encontrado. Pelas horas nuas da tarde ardente, vago por entre pedras, pescadores, gaivotas e o mar. Medito à concentração minuciosamente solta, leve e pesada, como só o mar ( e o pescador) sabem viver. Ouço aquela espreita que vem com a maresia vaporosa, quase quente, no desejo de tapear algum peixe vacilante.
Calma e atenção em uma só harmonia de movimentos e pensamentos. E penso que o pensamento é o mais sublime movimento dos seres humanos. Vejo no desejo dos olhos dos pescadores esse brilho animal, de cálculos biofisicamente inconscientes, mas fervorosamente presentes no tato entre sua mão e o mar, tendo a linha de nylon como sutil ponte. E deixo estar o ir e vir das ondas a umedecer meus olhos com o balanço viajante. As ondas parecendo penetrar por entre as pedras e atravessar o continente em segundos, invadindo solo adentro... É mais bonito de ver e de ouvir que o trânsito na avenida Niemayer, logo atrás da minha minha “terrinha do Nunca particular”, muito embora ali seja um logradouro público segundo a lei, a lei escrita. É mais bonito, inclusive, após o entardecer. As luzes do engarrafamento, nem de perto e nem de longe superam o o encanto místico do imprevisível bailar das ondas refletindo a prateada incandescência do reflexo lunar.
Por dentre vilosidades esculpidas nas pedras estendem-se pequenos aquários naturais, que mais parecem criados por algum paisagista de tão cheios de perfeições notáveis: ouriços, anêmonas, algas verdes e vermelhas, caranguejos pequeninos, mariscos agrupadinhos e alguns pequenos peixes adaptados àquele pequeno refúgio fechado, oceano privado. As ondas às vezes batiam mais alto fazendo renovar a águas dos aquários.
Pela tarde, dois peixes conhecidos pelo nome de mangabá pelos pescadores, apesar de não serem ainda crescidos o suficiente, foram pegos na armadilha do anzol de um deles. Eram, pois, provavelmente, os mais valentes do cardume de onde vinham, porque ambos foram capturados logo após a isca ser lançada ao mar. O pescador deixou-os em um dos pequenos aquários naturais e, antes de mudar de ponto – andar de uma pedra à outra em busca de uma mudança de sorte – me pediu para que antes de ir-me embora que eu os soltasse.
_”Não carece de matar uns pobrezinho deste tamaninho – e com o polegar e o indicador exibiu um tamanho exageradamente ínfimo – quando eles ainda tem muita vida pra crescê e disová por essas banda aqui – e fez questão de apontar a direção dos dois litorais que se estendiam tendo como ponto referencial a nossa própria localização, como que fossemos de fato o centro crucial daquela identificação.
Não sabia que seria tão complicado capturá-los para lhes devolver a liberdade. E ri comigo mesmo daquele paradoxo retórico. Depois de mil e uma estratégias diferentes, já quase desistindo, sentei-me ao lado da “micro-lagoa rochosa”, e então subitamente comunguei com a paisagem, os sons do mar, as ilhas , nuvens, cores espalhadas, cores espelhadas, uma osmótica meditação do olhar, absorvendo toda aquela luz para os confins atômicos da minha mente. De repente, num susto colossal recebi um dos peixes diretamente entre minhas pernas, que estavam cruzadas com fazem os índios brasileiros. Recuperado do espanto, tomei-o cuidadosamente com as mãos e subi ao topo da pedra que é conhecida pelos íntimos como “Castelinho”. O peixe rebatia-se, já furioso, clamando pelo seu retorno à liberdade da comunhão oceânica. Inflava suas guelras numa ânsia desesperada em extrair da ardente atmosfera o oxigênio que agora parecia queimar-lhe. Não me demorei no pico, logo me lancei à frente, saltando para o nada. Oito metros do que conheço de mais puro, se é que conheço verdadeiramente o teor desta palavra, puro. Oito, oito infinitos metros de puro presente, de pura eternidade, metros de descontrole previsível, pureza plena, risco e sabedoria num só movimento. Não sei quanto tempo do pico à água, mas cada um dos poucos segundos parecem minutos, fragmentos de minuto que são intermináveis, e que, como se ali naquele parênteses-asterisco do espaço-tempo resumisse-se toda uma época de vida aglutinada num determinado instante, de toda uma geração, e uma população inteira, e uma cultura, e anos e anos de história, e tudo o mais que aconteceu para que aquilo ali agora estivesse onde e como eu e tudo à volta estávamos, aquele recanto de felicidade instantânea e eterna, como metáfora viva a mesclar-se com os paradoxos das idéias, sentimentos, emoções, forças, circunstâncias imprevisíveis, tudo numa coisa só, uma coisa sem forma de tão acelerada que é em si mesma, tão metamórfica.
O vento empurra o dia para longe e mergulho na morna água, que, por incrível que fosse, estava absolutamente cristalina. Deixei meu corpo deslizar por aquela placenta esmeralda até meu pé tocar vagarosamente uma pedra coberta de algas. Abri os olhos para ver as bolhinhas de ar subirem e me causar aquela sensação forte que trago das brincadeiras imaginativas da infância, a de que estou a pular dentro de um copo de soda limonada, e sinto-me todo cítrico, como que respirando com os olhos aquele refrigerante imaginário. Só depois de subirem quase todas as pequenas bolhas é que me dei conta de que o peixe ainda estava entre meus dedos. Ainda imóvel, provavelmente tonto com abrupta descida, trouxe minha mãe com ele até a outra e fiz formar-se uma espécie de gaiola de dedos, e o trouxe para junto de meu rosto, para observá-lo de bem perto. Fiz o truque da bolha de ar equilibrada num olho para observá-lo em detalhes, como que estivesse com máscara de mergulho.
Eu esquecia-me completamente que acima de mim ondas se esfarelavam por entre pedras e carros buzinavam a alguns metros dali no engarrafamento ardente que preenchia toda a tarde daquela cidade paradoxal. Fui abrindo vagarosamente a “gaiola”, e fiquei a sentir o peixe, ainda inerte, a tocar com suas escamas hidrodinamicamente escorregadias por sobre as vilosidade, agora tão grosseiras, da palma de minha mão. Então o peixe fez um único movimento e em milésimos de segundo estava bem longe, adentrando o universo das verdes e vermelhas algas marinhas e pedras submersas.
Quase havia me esquecido, que, como as guelras do peixe clamavam pela sopa de moléculas oceânicas, meus pulmões se encontravam igualmente famintos da sopa de moléculas atmosféricas.
Depois de soltar meu ar ainda de baixo d'água, chegar à superfície, e, enfim captar daquele vento cheio de maresia a pequena parte que cabia em meus pulmões, foi, simplesmente, catártico. Abri um sorriso tão libertário quanto o sorriso implícito na partida veloz do peixinho que havia ficado submerso. Entre-cortado pelas ondulações, comecei a escalada de volta ao cume do Castelinho. Vi a noite então cair como um cenário atrás de mim, um cenário que abruptamente muda de cor para complementar e completar algum movimento dramatúrgico. Foi então que me dei conta: havia ainda um peixe à ser libertado. Voltei ao pequeno aquário e, apesar do crepúsculo e com ajuda da lua, pude rapidamente constatar que o peixe havia já encontrado seu caminho de volta para casa, sozinho.
E ao anúncio da noite senti que só poderia encontrar sozinho aquilo que somente eu poderia procurar. Embora as estrelas já se destacassem no céu, eu sentia que o dia tinha um perfeito início. Chegando em casa, da mesma forma como caíra o dia enquanto eu escalava, adormeci abraçando todas as mudanças que o horizonte pudesse representar; e sonhei exatamente com aquilo que eu vivia, finalmente - realizei que aquele sonho que imaginava, poesia, era exatamente o que eu vivia.
[Uirah Felipe]
domingo, 24 de junho de 2007
Abortando fagulhas nervosas
Sempre me senti... muito.
Quero dizer
sempre me sinto
mas
sempre me senti de um jeito...
um jeito de se sentir que sente mais
que sente mais que os próprios limites do corpo
e dos sentidos próprios à este
aquela extensão elasticamente imprevisível da arte...
sempre... sempre me senti muito...
diferente?
Não sei, porque nisso me sinto igual
todos somos assim, diferentes...
mas sinto-me... estranho?
Não exatamente, faço parte,
sinto-me...
Esquisito! Será essa a concepção do número 1 (um) nos confins da minha mente? Uno, único, individuo-all?
...difícil procurar as palavras
assim me sinto, difícil
e esquisito, estranho à mim mesmo
a cada instante
Sinto-me?
Tudo muda tão veloz
tento
essa tentativa, a-narrativa
essa força que se faz por alcançar aquilo que...
bem
aquilo que
aquilo que as palavras não alcançam
Sinto-me tão sem jeito comigo esmo
comigo mesmo?
Sei-me esse sentir que esvaira-se feito a maresia no vento sul
sei-me? De onde vem o sul se desconheço o norte?
Sinto na estranha loucura da minha percepção existencial
uma espécie de constante, uma constante
diante do fato eterna e gradualmente agravante
que se instala ciclicamente em meu ser
este sendo que nem sente,
que tanto tenta que nem mente
incrédulo e contente, venta
Ahhh
Auxente presença que me aguente
enquanto eu existir, conformadamente
que nem me tente
que não me minta
que nem me enfrente...
Minhas asas são invisíveis
não poderão ser podadas...
Em mim nunca caberão fronteiras
e o que não sei o que faço...
simplesmente deixo ao que fadado inconstatável é:
e pensaria comigo:
_É solução minha!
Mas pra que fosse entendido diria:
_É problema meu!
E a satisfação seria intrínseca, mas nunca o foi...
e a gente inventa ela racionalmente
quando
verdadeiramente
experimenta-a
e se perde,
razão irracional
tentando encontrar explicação
e se encontrando, que em si mesma
é que está toda a criação...
toda invenção entre o bem e o mal...
quinta-feira, 21 de junho de 2007
-_-
.
..
...
Deixo o corpo respirar alguns segundos
debaixo do chuveiro
alternando entre o mais quente – sauna
e o mais frio – inverno gélido
Feto
luzes desligadas
acesa mente
sentidos
tato
o óbvio enfim
evidente
e o pulso
pulf pulf pulf
como os rios que se subdividem em inúmeros afluentes
traçando um pulmão florestal
eu pingava minha respiração
me deixando ser lavado pelo levar
azulejos, praias
rios pro mar
pro ralo
água
ar
.
Não é querendo
que se escreve poesia
...
domingo, 17 de junho de 2007
des_Fruto
Sinto-me
mero reflexo
que sou
sendo o que já é
Este hoje
desta Terra
espaço-temporal
esta quebra
compasso anormal
anacronismo musical
de pulsos rítmicos
cada vez menos orgânicos
Sinto-me
batuque eletrônico
batuque cibernético
palmas tambores
fogueira, lareira, fogão
nem sinto-me
no calor desta explosão
em que imbico-me
perdido sem direção
uma velocidade sem tempo
a ignorância completa diante do espaço
Nem sinto, e nem sinto-me
(dá no mesmo)
parte do espaço que sou
também
integrando o cósmos
desintegrando
cada vez mais
vou
compondo este desassussego
cego
mudo
surdo que sendo
um apático vendo
retrógoda ação
de tanto que faço e pouco desfruto
neste progresso da ordem de Involução
Uirah Felipe
quinta-feira, 14 de junho de 2007
...
“Tenho a vontade incontrolável de escrever sobre inúmeras coisas das quais sinto-me proibido de dizer. Postergo tais escritos na esperança de que a memória conserve alguma fertilidade de tamanha volúpia jovem de fúrias e paixões. Mas o tempo, entidade tão inatingível quanto é o espaço, me prega uma peça a cada vez que tento retornar aquilo que já não sou: fracasso, e morre de mim toda aquela impulsão vital que não realizou o que era de infinito desejo.”
Uirah Felipe
quarta-feira, 13 de junho de 2007
O Lixo em: REFLEXO-PARADOXOS INEVITÁVEIS
o LIXO [de Luís Fernando Veríssimo]
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?
Reflexo-paradoxos inevitáveis
“ O Lixo”, de Luís Fernando Veríssimo, é uma crônica em diálogo, de uma dinâmica hipnotizante, que pode facilmente ser lida enquanto se joga o lixo lá fora. No texto, o autor evidencia claramente o caráter da distância que as relações sociais básicas do cotidiano vêm adquirindo com a evolução progressiva da modernidade contemporânea. Em um novo século de gerações e gerações de workahollics de todos os tipos, da era dos filhos da informação “online”, onde as únicas fronteiras são a ignorância e a incapacidade de acesso à tecnologia, neste universo recém emancipado onde a distância entre qualquer lugar é a de apenas fragmentos de segundo – cliks -, nesta zona neutra onde a cultura, líquida e acorpórea, é que dialoga e se manifesta livremente; onde as ideologias ventam sem a interferência da geografia, onde uma simples idéia, convertida em códigos binários e linguagens matemáticas, é capaz de se espalhar rápida e violentamente como um vírus, contaminando quase instantaneamente o universo virtual e assim consequentemente o real também de maneira incontrolável, ou, ainda, irremediável, e revelando assim uma inevitável expressão dos movimentos de um conjunto global que finalmente busca uma identidade planetária – a infinita curiosidade humana encontrou um paraíso para realizar-se com a mesma velocidade instantânea que clama hoje o nosso cotidiano: a internet.
Da desfragmentação generalizada do espaço-tempo, onde impera uma ORDEM dE PROGRESSO aparenta ter o desejo intrínseco de acelerar o relógio, parece que, cada vez mais, as interações físicas nas relações humanas se tornam a cada dia mais plásticas, corriqueiras, teatrais e/ou superficiais. Está dia-a-dia sendo subtraído delas seus importantes valores natos da vivacidade da comunicação biofísica. O que por um lado nos faz estar conectados com todo o globo, nos isola da experiência com o real irrefutável do espaço-tempo. No paradoxo do conhecimento caminhamos sobre essa inconstante água, que tanto nos eleva aos céus quanto nos curva diante de telas de vidro e teclados, como homens das cavernas hipnotizados madrugada adentro pela luz de um fogo e o calor de algumas idéias.
O casal retratado por Veríssimo explicita esta realidade contemporânea humoristica- mente, quando, sendo um completamente estranho ao outro, alheios ao fato de serem vizinhos, descobrem ter em comum uma identificação mútua pelo lixo um do outro. Neste “admirável mundo novo” analisa-se o lixo de uma pessoa muito mais facilmente que a própria pessoa que produz esse lixo – a frieza da velocidade contemporânea faz dois seres humanos serem muito mais capazes de depararem-se inúmeras vezes com o lixo de um vizinho (agora naturalmente um estranho) do que com o próprio vizinho em pessoa.
Mas Veríssimo não pára a crônica nisso, ele fuxica o lixo profundamente e encontra questões ainda mais impressionantes. Não obstante o absurdo de distância que pode separar dois vizinhos, são notáveis as reflexões em que o diálogo criado pelo autor vai abruptamente se aprofundando. Em pleno desenvolvimento da cultura da propriedade e do copyrigth, a personagem se depara com o fato extraordinário de que o lixo, ou, ao menos o lixo, é um domínio integralmente público! A reflexão se aprofunda ainda mais nesse 'lixão' ideológico':
“- Você tem razão (o lixo é domínio público). Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?”
O lixo, enquanto exclusivo e legítimo domínio público, se tornou o bem mais social que nossa civilização conseguiu “construir”. Será esse o nosso triunfo?!
Outra considerável observação é o comportamento, ao mesmo tempo comum e anormal, das personagens, que, ao mesmo tempo que fuxicam o lixo alheio, jogam fora material de imenso valor pessoal. Mas o mais curioso é o fato de ambos deixarem intactos os seus objetos antes de se desfazerem deles. Como que sendo fuxiqueiros de lixo de plantão, tiveram o descuido cuidadoso de não comprometerem a integridade do que estavam por se desfazer.
Cada vez mais condicionados e gradualmente habituados a “viver num mundo virtual”, o homem abre mão da expressão de sua subjetividade no plano real e fatalmente tende a transferir este vazio do mundo físico para o universo virtual. A cultura blasé em ascensão, em paralelo com o excessivo contingente de personagens com que obrigatoriamente o novo homem se relaciona, empurra tanto as camadas sociais mais fúteis, que desfrutam dos novos recursos comunicacionais para fertilizar seus egos e conquistarem o sucesso social – a popularidade – que lhes falha no mundo real, quanto faz aproximar círculos sociais ímpares através da capacidade de interação e troca de informações de inúmeros gêneros do desenvolvimento do conhecimento humano. Uma real recriação da realidade, uma verdadeira Matrix, onde a grande novidade é não existir espaço (e portanto uma completamente nova concepção de tempo que repentina e inevitavelmente se cria), e por não existir espaço, poder se “desconectar” dos pesos que o corpo eventualmente lhes tragam no mundo comunicacional do universo real.
Sites de relacionamento como Orkut, Second Life, uolkut ou Myspace acabam por legitimar relações “fake” que passam a se tornar reais a medida em que muitos só se relacionam através destes mecanismos cibernéticos. O teatro social, no mundo virtual, não prevê um corpo real, e portanto a timidez, a insegurança, a sociofobia e muitos outros males modernos podem ser completamente abafados na auto-recriação inevitável que todos enfrentam quando estão diante da telinha de vidro conectada por um fio elétrico. As pessoas de hoje são capazes de criar verdadeiras outras identidades: fotos photoshopicamente hiper-reais, vídeos, pró-tools no conteúdo sonoro, efeitos e mais efeitos da caixinha mágic do 'personal computer'. Raramente irá condizer a personalidade virtualmente expressada de um internauta com a sua verdadeira personalidade. Avatares de programas como “Second Life” são possivelmente mais bonitos, mais fortes e aparentemente muito mais bem sucedidos do que o “eu” verdadeiro que esconde-se cautelosamente por trás do boneco-personagem que se apresenta ao mundo virtual-real. Além disso, softwares como yahoo-messenger, msn-messenger, icq ou googletalk, vão pouco a pouco tomando a função do convívio social direto. Em um mundo onde se possuí centenas de amigos, não é de se admirar que, pela lei do menor esforço, seja mais 'vantajoso' “conversar” com 20 pessoas (ou personagens virtuais) ao mesmo tempo do que perder o cada vez mais precioso tempo numa roda social onde, muitas vezes, é com dificuldade que se consegue a atenção garantida e desejada em atmosferas cada vez mais blasés. O pragmatismo do modo de vida capitalista não afeta somente o nosso “personagem-profissional”. Pouco a pouco vai se infiltrando na personalidade íntima de cada um aquilo que antes, na aurora de seu desenvolvimento, haveria sido rejeitado prontamente.
Mas não somente aspectos negativos podem ser observados neste vasto caos da IDADE MÍDIA. O movimento dos blogs e outros provedores de sites pessoais cada vez mais personalizáveis traz uma “realidade” bastante antagônica à febre egológica que epidemicamente se espalha pelas redes de comunicação virtual. O que para muitos o universo virtual representa uma oportunidade de recriar falsamente seu ego devido ao insucesso no mundo real, para outros, partindo do mesmo desejo de livrar-se deste insucesso quase inescapável, é uma brilhante oportunidade de deixar mais livre a sua capacidade de expressão subjetiva. Isto se reflete na popularidade que a mídia independente, através de blogs e outras ferramentas semelhantes, vem desenvolvendo dia-a-dia e ganhando cada vez mais relevante influência no mundo real. Sites como wikipedia, google, altavista, fotolog ou blogspot indicam o pontencial de sucesso que existe nas idéias libertárias neste paralelo mundo que se consolida movendo quantias financeiras absurdas no mercado financeiro mundial. Mais um paradoxo conflitante à que caminha a humanidade. Mas ainda mais surpreendente seria pensar que este antagonismo nas intenções daqueles que desfrutam das ferramentas comunicacionais do mundo virtual não esteja aglutinado em dois pólos somente na população como um todo, criando assim dois tipos de comportamento distintos. É mais impressionante ainda notar que esta dupla relação com o mundo virtual está dentro de cada indivíduo. Tanto o egomaníaco passa a expressar mais sua subjetividade, quanto o adepto à expressão íntima e verdadeira no plano virtual acaba desenvolvendo o seu egocentrismo, num círculo vicioso infinito do essencial paradoxo da natureza humana.
Uirah Felipe
Uirah Felipe
quinta-feira, 7 de junho de 2007
-TERRÁQUEO-
Quanto tempo terá
todo esse pouco tempo
gigantesco
que veio do inalcançável primeiro dia
até hoje num piscar
Sou um planeta povoado por sonhos
minhas florestas respiram fantasia
e minha gente
é toda ela que cria
das angústias às alegrias
toda sorte de dores e anestesias
Imoral
meu sendo é o descobrir
do que jamais antes
eu me surpreendi
é uma aceleração
de velocidades incalculáveis
onde os raios da luz do sol
fazem um curva extensa
nas nossas dúvidas existenciais
e penetram o solo caoticamente
aquecendo os meus passados
iluminando minhas raízes
desenvolvendo o meu amanhã
imprevisível
inimparcializável
sou um aquecimento moral
minha ética não memoriza os fatos
mas sim as vivências
o sentir e o criar
são em mim mais valiosos que o saber
Meu pecado é só desistir, adiar, prosternar
esperar para ver e não abrir os olhos
Salvar-me é por sempre a alma em risco
pra que eu e ela não percamos nunca a intimidade
desafiando os limites da minha mente
minhas emoções, do caos e das confusões
Vou... contactando-me à Terra, urgentemente.
sábado, 2 de junho de 2007
Naturalmente doação... à venda.
♫
"já não me habita mais nenhuma utopia. animal em extinção,
quero praticar poesia
–a menos culpada de todas as ocupações."
[ Waly Salomão ]
♫
Prostituídos pelo Consumo
O Hoje tem tornado-se tão relativo e subjetivo quanto qualquer construção mnemônica a respeito dos acontecimentos de um ontem que tanto pode ter acontecido à 24 horas quanto 24 meses...ou anos, quem sabe a diferença? Não se vive mais uma vida, um personagem, uma personalidade, um tempo ou um espaço. Moda. Hoje tudo é transformação. Mudar é uma lei implacável. A multiplicidade afetou a individualidade de cada um. Não temos mais uma, mas muitas personalidades, que variam de acordo com contextos ou circunstancias específicas. Não temos mais UMA VIDA REAL. Temos algumas, e mais as vidas cibernéticas desenvolvidas através do virtual convívio social das ferramentas comunicacionais da IDADE MÍDIA – a internet. E quem somos? Os comerciais da TV dirão a resposta? Porque hoje - (e quando é isso?) - parece que se somos, só somos porque consumimos? É dito pelos pensadores contemporâneos que no consumismo diário desenvolvem-se as características de cada personalidade, será? Sim e não, não podemos fugir do que nosso corpo fala, seja pelo que faz, veste, ou consome. E quem somos, meu deus do céu!? Quem somos? Até Deuses, filosofias, intimidades, sonhos, tudo vira produto! Trabalhar passou a significar fazer parte da grande rede apressada por aumentar a sua produção de eterna aceleração. Produção de quê? Ora, tudo, tudo vira produto... É nesse sentido que todos (ou quase todos) fazem o que fazem. Venda, compra, troca. Nossa cultura esqueceu completamente o que significa solidariedade ou compaixão. Ninguém mais quer fazer aquilo que deseja fazer sem transformar antes o resultado de sua ação em um produto, um “algo” que lhe confira números no fictício imaginário coletivo dos valores monetários.
De exaustivamente farto à energicamente enfurecido, sou obrigado a me deparar diariamente com aquela coisa suja que “carinhosamente” chamamos de dinheiro. Porque essa coisa de valor representado? O valor das coisas deveria estar nas próprias coisas, em seus usos e usofrutos, e não em números cotados a partir de margens comparativas de absoluto desequilíbrio de julgamento. PROPRIEDADE. COPY RIGTH. Is that really rigth? Não importa... né? É assim que é. A revolta de ser escravizado pelo universo consumista do capitalismo diário pode ser libertada em pequenas doses de internet, onde, quem tem acesso, é quase livre... Pelo menos é levado a se iludir que assim está sendo... E vendendo nossos subconscientes às janelinhas de propaganda, sem querer querendo vamos nos permitindo, conformadamente, a sermos plugados nesta MATRIX do consumo, onde jamais se desfruta do que se necessita, onde se vende um pouco de si em cada compra, onde o que sonhamos pode ser compilado num filme, e o que acreditamos, em uma novela ou um jornal, e o que queremos, resumido à luta diária de uma medíocre fatia no bolo da tal entidade conhecida como mercado. Sabe, É FODA. Não dá pra seguir este destino traçado previamente pela televisão ou pelas revistas e jornais, cartazes e rádios. E qual escolha nós temos? Temos? Não temos a opção de não escolher. Se não queremos obedecer, nos obrigam a mandar. Mas... e se não queremos mandar e nem obedecer? Parece que quando nascemos já estamos completamente vendidos... e nunca seremos pagos por esta venda.
[-Uirah Felipe-]
quarta-feira, 30 de maio de 2007
quinta-feira, 24 de maio de 2007
lá
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Abraço Gandhi à todos
Nunca compactuei com minhas possibilidades de violência.
Parece o caminho mais curto e insatisfeito da existência.
Inspirado em Gandhi,
o meu ataque é feito de escudos espelhados:
o objetivo é que o inimigo reconheça na imagem refletida nos escudos a sua própria perda completa de razão.
---Abençoados sejam os nossos sentidos!---
[ Uirah Felipe ]
Salve! Salve!
segunda-feira, 21 de maio de 2007
sexta-feira, 18 de maio de 2007
"um reencontro é sempre também reencontrar-se"
RECOMEÇO – e qual é o lado certo dessa vida errada?
“(...) Pois o importante nunca foi
saber exatamente O QUE SE PENSA,
mas sim, COMO SE PENSA”
Preciso saber o que é essencial em mim. E sei que já sei, mas desde criança vem se tornado cada vez mais complexo o processo de acreditar. O que no início de minha adolescência parecia ser um ponto favorável - ter tantos vínculos com tantas pessoas que me causassem admirações quaisquer – agora me parece uma teia na qual grudado, não consigo me desvencilhar nem por todas as minhas forças, é como a força que une o espaço e o tempo em um único mistério. Mas hoje me vejo preso à uma rede de mentiras que corrompe completamente a mente daqueles que eu considerava os mais pensantes da minha rede de amigos. Sempre desejei viver alguma fase da minha vida como um efetivo solitário, para quem sabe curar a infinita solidão de minha esquecida (e desconhecida) infância. Mas sempre visualizei essa fase de vida como uma fuga repentina e brusca, como um pinote de um assalto de pivetes, onde eu também corria pra me refugiar nos morros, mas no meio da floresta, em contato com o mundo à distância, como observador, pedra, montanha. Nunca consegui atingir esse meu secreto plano de auto-isolamento, mas com o passar de anos repentinos que foi a virada da secunda década de minha vida percorro as memórias na tentativa de encontrar aquele por quem sempre defendi o sonho de vir a ser. E por um lado sou pleno, por outro um fracasso. Descubro de essencial em mim toda uma série de características que fazem das minhas escolhas impulsivas toda uma série de caminhos errantes que eu fui sendo empurrado a viver, força das circunstâncias ou das escolhas? Só sei que não escolhi ser quem sou, pensar como penso.... E por algum momento dessa minha trajetória de indecisões e sede por tudo e talvez qualquer coisa, nessa minha vontade absurda de fazer parte de tudo e sonhar com os sonhos de natureza mais humanitária que minha mente conseguia criar e assim mostrar fazer nascer no mundo os meus sonhos em forma de mensagens nas entrelinhas de minha involuntária poética libertária que sempre me pega de surpresa, como avalanche silenciosa. E a casa caiu mais uma vez. E desde sempre vem sendo assim o descontrole do meu destino. A dor passou a conviver debaixo dos meus sorrisos, e o sofrimento se tornou banal diante de todas as circunstancias reais. O coração era o órgão mais machucado em meu espírito, igualzinho ao espírito do mundo. E não sei se por egocentrismo ou por sensibilidade, ou talvez pela mistura das duas coisas, sinto no que conheço do planeta um reflexo exato daquilo tudo que sou. E nisso afirmo que o céu e o mistério são uma mesma realidade, um mesmo cenário, uma mesma idéia, são um só pensamento. Não consigo deixar de entender que somos todos co-criadores da realidade. Que um só pensamento do alto da montanha é capaz de mudar toda sorte de acontecimentos na complexa rede de relações humanas de uma cidade. Como num efeito borboleta, aceito a responsabilidade que é um simples pensamento, a responsabilidade que é um simples “estar aqui”, vivo aqui, nesse espaço, esse mundo, esse tempo em que nos encontramos igualmente indissociáveis. São muitos os céus diante da física quântica. E diante da minha vida também. Sem o amor, essa palavra polêmica e inevitável que infla meu ser de capacidades infinitas, eu nada entenderia dessa responsabilidade muito maior que concordar com um grande número de pessoas, ou parecer normal à uma massa cultural qualquer. Essa responsabilidade imensa de trazer para cada passo da vida aquilo que fermentamos desde o nascimento na alma de nossos mais intensos pensamentos existenciais. Queria conseguir minha fuga de auto-isolamento de maneira simples e objetiva: dando um sumiço da minha presença no universo social, pra entrar mais em contato com meus sentidos mais fortes, os que na infância e adolescência fui confrontado mas me senti completamente vulnerável pra encarar sozinho a barra de tentar entender. Infelizmente, no entanto, a fuga não fui eu quem possibilitou, porque não saí do lugar, não me libertei, continuo escravo de rotinas hipócritas, sofrendo o sofrimento alheio que me acorda pra sofrer o meu próprio, abafado pelo meu pânico da eterna solidão da infância e adolescência, jamais curadas. Minha fuga veio através das teias de episódios que eu mesmo causei de modo a entrar num rodomoinho do tipo causado pelo meu próprio nado numa piscina redonda. Meus amigos, queridos, amados seres que compartilharam o crescimento do meu ser são hoje muito mais escravos que eu, muito mais coitados que a minha consciente solidão. Meus sonhos já não fazem parte da realidade de quase nenhum dessa minha rede de queridos. Por um lado vejo que aos poucos todos foram sendo contaminados pela onda de conformismo imposta pelo medo subliminar dos nossos estilos aculturais de vida pseudo-burguesa., ou burguesa, dependendo do ponto de vista. Por outro lado sinto que eu fui o contaminado e não meus amigos que só sorriram às minhas idéias anos atrás diante da empolgação da juventude, da abertura indeterminada de horizontes que agora artificialmente se fechavam de acordo com os conhecimentos da complexidade de todo sistema burocrático de nossa sociedade de ilusões cruéis. Arranha em mim a dor de todo o povo que parece gritar debaixo d'água, como num aquário de água bastante turva, sem ser ouvido pelas instituições capitalistas que ilusoriamente reconhecemos como autoridades, mas que camuflam sua ignorância através do joguinho democrático que só traz privilégios aos que já são privilegiados pelas forças das circunstâncias. Estou tão exausto que é como se estivesse parindo, ou sendo parido, mas talvez, e muito provavelmente, as duas coisas numa coisa só. Através de toda a dor de viver é que conheço todo o prazer de se criar. E é chorando que eu sorrio e infinitamente me recrio na balança dos paradoxos e buracos-negros das galáxias de meus mais elétricos pensamentos. Se eu fosse uma lagarta , estaria enjaulado desde a infância dentro de um casulo onde o meu mundo me impõe que é proibido borboletas. E tudo que consigo resumir é que o proibido só deveria ser mesmo proibir.
- Uirah Felipe Grano Gaspar -