domingo, 8 de julho de 2007

O espírito da coisa








O espírito da coisa

A alma dos macacos se espalha através de tudo aquilo que eles conhecem
Assim como para eles é a floresta, espirituosamente rica da alquimia da vida
é para as baleias, tubarões, polvos e outros seres marítimos o oceano
A alma das plantas está, também, em nossos olhos
Assim também são os rios, oceanos, montanhas
Eles têm a alma nos olhos, pés ou sangue de outros animais
além de neles mesmos...
são como os patos, gansos, garças e outras aves que sabem pertencer à uma paisagem
como nenhum outro ser
Eles compreendem neles mesmos a percepção que têm de tudo que desfrutam
A alma é uma espécie de caminho...
A alma do mundo está nos olhos
daquele que tenta desvendá-la, ou desvendá-lo
A alma é um caminho sem fronteiras
Como que a cola grudenta que faz do corpo e da mente uma só coisa
como uma rua que de tão larga não tem meio-fio, uma rua redonda
É como que sentindo o que se sente, fosse além dos sentidos
por conexão e conjunto, extensão pro mundo em coletivos
compondo num só espírito planetário
esse compartilhar de uma presença ( no pre-sente)
[a presença que precede o pressentimento de um presente]
que por ser inevitável, sentir cria o mais claro consciente
A alma é essa fração errante de tempo
que se desloca por diferentes dimensões do nosso espaço
Alma é o mistério, maior que a escuridão da floresta
O enigma do acaso, e da eternidade efêmera
a transitoriedade dos erros acertantes
da poesia virótica
que acaso se disfarça muitas vezes em prosa
infestando todo e qualquer tipo de literatura e indo muito além dela...
encadeando-se disfarçadamente pelo DNA de frases às vezes por demais extensas.... Virando contos, crônicas, romances, roteiros... Ganhando imagens e sons e todo este movimento ativo cada vez mais intrinsecalizado em si mesmo com o uso e abuso da tecnologia audiovisual, transcendendo ao status de CINEMA, de arte sétima.... Recheando cada veículo com bons bocados desta nutrição poética, imensos lotes desta alma grudenta são digeridos antropomorficamente, e aglutinados na experiência sensorial-subjetiva dos confins do inconsciente, por fim resultam em um único corpo que por ventura pode ser esquecido numa estante, armário ou HD: livro, CD, DVD, arquivo digital...
Será a Alma isto que fica para além dos corpos das pessoas?
Será alma a vida que está além da própria vida individual, aquela vida que se expande além das fronteiras do tempo para ser elevada à categoria de cultura?
Mas a alma jamais poderia estar viva sem as células de seu corpo
já que ela é necessariamente a consequência de uma coletividade
Assim como uma cultura não poderia estar viva sem seus indivíduos formadores de uma tal sociedade ou um corpo cultural, uma alma não tem vida se não encontra a biologia que a faça manifestar-se...
A alma de um livro, por exemplo, quando na estante
tem alma de paisagem...
Mas quando na imaginação por detrás de olhos
de quem o leu (ou a leu [a alma do livro]),
e por todo o restante da vida deste ser
o livro tem alma humana além da alma própria que tem por ser o que é, na estante.
A poesia contida,
que não está nem no livro e nem na estante e nem na tela de cinema e nem na pintura e nem no céu,
está, em verdade, por dentre todas as coisas, à todo e qualquer momento
Não são necessária palavras para se compor um poema,
assim como não é preciso som para que se faça uma música.
Diz-se à respeito de um estado conhecido como inspiração
mas que se sabe sobre isso?
Acho que o tanto quanto se sabe sobre a alma...
Eu diria que a poesia é só...
...o espírito da coisa.

[Uirah Felipe]

Nenhum comentário: